O Consórcio Modular é uma forma
radical de outsourcing, constituindo-se na transferência de diversas
atividades, que, antes, faziam parte das atribuições da empresa, entre esta e
seus fornecedores. No inicio da década de 90, deu-se o início da abertura
econômica brasileira. Anteriormente o mercado brasileiro era altamente
protecionista, onde nossos produtos eram protegidos com altas taxas de
importação favorecendo o mercado local.
Outra mudança foi o surgimento do MERCOSUL,
mercado comum do cone sul, que permitiria no futuro a comercialização de
produtos entre os países membros com taxas de importação menores e em alguns
casos nulas, ampliando o mercado de comercialização dos produtos fabricados
pelos países membros. Logo, a abertura
econômica e o surgimento do Mercosul promoveram uma oxigenação na indústria
automobilística brasileira através de investimentos em tecnologia, novos mix de
produtos, ganhos de produção e novas formas de gestão.
O surgimento da Estrutura Modular, nesta
nova forma de gestão da cadeia produtiva, o sentido de Parceira significa um
forte elo de associação entre as montadoras e seus fornecedores. Todos são
responsáveis pelos investimentos e riscos do empreendimento em busca de um
resultado comum, permitindo a redução de custos e tempos de produção, aumentando
consideravelmente a competitividade dos produtos, além da divisão dos
investimentos, custos e riscos entre os consorciados e a empresa líder.
Neste novo modelo podemos levantar
várias questões ligadas à forma de Organização do Trabalho, a forma de
Organização da Produção e no relacionamento entre a empresa líder do consórcio
e seus modulistas e a cadeia de fornecedores. O produto final é dividido em
módulos e estes fornecidos e montados em conjunto por empresas, sendo que estas
se encontram dentro da mesma planta, confluindo para um produto final. A
empresa líder não realiza nenhum tipo de montagem, mas assegura a qualidade
final do seu produto. Constitui-se, assim, um caso radical de outsourcing.
Dessa forma, o processo de montagem do
produto, que era de responsabilidade do fabricante, passa ser de
responsabilidade do fornecedor, denominado de modulista ou consorciado. E cabe
ao fabricante ter a responsabilidade da engenharia do produto, do controle de
qualidade final do produto, da interface com o cliente, da distribuição do
produto, da comercialização e do marketing. Os consorciados têm a
responsabilidade de fornecer e montar o módulo ou sistema e garantir a
qualidade dos mesmos. No Consórcio Modular é fundamental entender a escada de
transformações das relações entre a montadora e os consorciado.
Considera-se que o surgimento do
primeiro Consórcio Modular, deu-se na indústria automobilística brasileira na
fábrica da Volkswagen em Resende, no Rio de Janeiro.
O projeto do Consórcio Modular
implementado na fábrica da Volkswagen é um projeto idealizado por Jorge Ignácio
Lopez de Arriortua, que anteriormente trabalhava na General Motors onde já estudava
estas inovações na forma de organização industrial. É importante ressaltar que
a própria empresa já tem experiência com a estrutura modular, como na fábrica
da Skoda na República Checa que fabrica o modelo Fenícia, porém nesta planta o
conceito de produção modular é aplicada de forma parcial.
Definida a forma de produto baseada no
conceito de Consórcio Modular, o próximo passo foi à escolha dos parceiros.
Para tanto 53 empresas nacionais e internacionais foram analisadas, por meio de
um sistema de compra internacional da Volkswagen do Brasil. A análise passou
por uma verificação da condição técnica de cada empresa, além dos aspectos do
melhor preço oferecido para a realização da tarefa. As compras compartilhadas,
coordenadas pela Volkswagen, em vez de serem feitas isoladamente, facilitam a
obtenção de economias de escala e melhores preços e condições de pagamento e
entrega.
A fábrica da Volkswagen em Resende é a
única da montadora que fabrica caminhões no mundo. A empresa começou a sua
atividade de fabricação de caminhões e chassis para ônibus aqui no Brasil com a
compra da Crysler em 1979 e depois com a fusão com a Autolatina, união da
Volkswagen com a Ford no Brasil, na qual adquiriu a tecnologia para o projeto e
fabricação de seus produtos.
Um dos objetivos é o repasse de
atividades de montagem aos consorciados de forma a permitir a redução dos
custos e do tempo de montagem do produto, uma vez que várias tarefas são
realizadas em paralelo. Logo, a montagem final está submetida à somente tarefas
de dependência prévia, configurando um caminho crítico para a montagem, o
contrato entre a montadora, líder do consórcio, e os consorciados, tem um prazo
mais elástico. E o relacionamento entre a VW e os consorciados baseia-se na
repartição dos investimentos, dos custos, das responsabilidades e dos riscos, o
que o diferencia da relação simples de exterioridade proporcionada pela
terceirização.
Um dos pontos fundamentais e
inovadores do Consórcio Modular é o risco compartilhado entre a montadora e os
consorciados. Neste sistema todo o investimento, custos e responsabilidades são
compartilhados, criando uma nova repartição do risco vinculado ao negócio. O
processo de produção é um processo de valorização de capital e está vinculado a
riscos inerentes ao tipo de negócio, já que o mercado está sujeito a variáveis
que definem a demanda por um determinado produto. Assim, a produção está ligada
diretamente a demanda dos mercados.
Grande parte das máquinas e
equipamentos necessários ao funcionamento da planta foram, de início,
responsabilidade única e exclusiva dos "modulistas", cabendo à
montadora a participação naqueles diretamente empregados na linha de montagem.
Com o sucesso do consórcio, a criação
de um elo forte de parceria entre a montadora e os consorciados poderá
favorecer novos negócios. Podendo dessa forma estabelecer novos consórcios em
outras plantas, tornando o modulista como fornecedor exclusivo global. O
pagamento dos modulistas é contabilizado numa frequência diária e baseado nos
veículos montados de forma completa e sem problemas de qualidade. No caso de
uma não conformidade, a princípio o ressarcimento de todas as perdas dos
consorciados é de responsabilidade do modulista causador do problema. Eventuais
paradas na linha de montagem também podem ter seus prejuízos assumidos pela
empresa causadora. Isso tudo incentiva um sistema produtivo enxuto, ágil e que
produza veículos de forma sempre completa, os riscos do investimento realizado
pelos fornecedores são mínimos, já que a montadora remunera seus parceiros pela
produção realizada e não pelas previsões e tendências da demanda e seus
excessos de estoques.
No que diz respeito à divisão do
trabalho na fábrica, esta nova configuração reflete-se no número de empregados
da Volkswagen que são necessários ao funcionamento do projeto. De um total de
1565 empregados em Resende, apenas 265 são funcionários da Volkswagen, dos
quais somente cerca de 60 têm sob sua responsabilidade as atividades do
chão-de-fábrica relacionadas ao controle de qualidade, coordenação das
atividades e projeto do produto, estando o restante encarregado das áreas de
"marketing" e vendas.
A Volkswagen vem passando por uma
profunda reforma estratégica de seus negócios. A empresa vem mudando o seu
foco, que antes era o volume de participação no mercado para o foco da
qualidade de seus produtos, produtividade e lucratividade de suas plantas
industriais.
A flexibilidade possibilitada pelo
tipo de sistema produtivo adotado por meio da terceirização de módulos ou
subconjuntos dos veículos proporcionou às montadoras o máximo de flexibilidade
produtiva e de custos. Atualmente, a Volkswagen Caminhões oferece uma variada
linha de caminhões, desde cargas leves (05 toneladas) até as pesadas (45
toneladas).
O modelo de Consórcio Modular da
Volkswagen Resende, por ser o único no mundo, serve como modelo e benchmark
para diversas outras adaptações e rearranjos possíveis nas empresas.