O século XVIII assistiu a duas grandes revoluções: a
francesa em 1789, com o ideal da igualdade e da liberdade, e a industrial, com
a descoberta da máquina a vapor. A Igreja viu-se diante de dois enormes
desafios. No
final do século XIX e início do século XX o Estado também passa a ter maior
atuação na área social, principalmente nas áreas urbanas, nas questões ligadas
a saúde, higiene e educação. E passa a intervir na gestão administrativa e no
financiamento das organizações filantrópicas e assistenciais.
Diante dos ideais democráticos, apresentamos agora
alguns pontos de seu posicionamento diante da questão social. Dois fenômenos caracterizaram a vida
técnico-econômico-social no século XIX e inícios do XX:
1.º Imenso progresso técnico, industrial,
comercial;
2.º O homem que vence a natureza superou as
distâncias.
Tudo isso repercutiu na
vida social: de um
lado, a concentração de enormes riquezas nas mãos de poucos e, de outro, os
operários quase sempre oprimidos pela miséria e degradados por um trabalho
realizado em condições desumanas.
Surge, em primeiro lugar, o socialismo utópico que
sugere a coletivização dos meios de produção, o controle da economia pelos
poderes públicos e defende igual dignidade de todo trabalhador. No início do
século XIX nasce ligado ao Partido Socialista, o sindicalismo: sociedades de
socorro mútuo que, com o tempo, alargaram sua competência. O caminho socialista
é superar a luta contínua de classes e levar à supressão da propriedade
privada, à socialização do capital, à abolição da família, das pátrias, das
nacionalidades.
A reação da Igreja foi lenta e não entendeu logo o
desafio do movimento operário. Num primeiro momento houve a exortação à
paciência, à aceitação religiosa da pobreza e isso acompanhado da ação
caritativo-assistencial, mas, pouco a pouco, assumiu uma posição mais clara,
marcada inicialmente pelo paternalismo e, em seguida, assumindo uma posição
autônoma na ação social católica.
Alguns motivos desta lentidão foram: pouca
conscientização das condições vitais das diversas classes sociais; mentalidade
aristocrática e conservadora dos católicos pertencentes à nobreza e à burguesia
intelectual; desconfiança perante o Estado (liberais) e a classe política no
poder (conservadores); a preocupação de não misturar a Igreja com questões
sociais e, sobretudo, a mensagem cristã da Cruz e da espera de uma justiça
ultraterrena.
O período que vai de 1870 a 1891 foi marcado por
discussões sobre a doutrina social cristã, que se orientava para uma
clarificação e tentativas ainda incapazes de superar o paternalismo e de
reconhecer a plena igualdade humana de classes e o direito que o operário
tinha, associando-se, de defender-se da opressão. Problemas mais discutidos:
associacionismo operário, intervencionismo estatal na economia, determinação de
um justo salário.
A Igreja Católica pode ser vista como o
início das atividades sociais no Brasil, desde a sua chegada, com a missão de
atender aos interesses da Coroa Portuguesa, assumiu serviços nas paróquias e
dioceses, a educação nos colégios e a evangelização indígena, mas dependia
totalmente da ajuda financeira do Estado. Após a proclamação da República,
quando é decretada a separação entre a Igreja e o Estado ela passa a
desenvolver trabalhos de assistência social, saúde e educação.
Observamos que o projeto autoritário e
centralizado dos anos 30-40 contribuiu para que numerosas entidades sem fins
lucrativos, responsáveis pela prestação de serviços a amplas camadas da população
que ficavam a margem das políticas estatais corporativas, desempenhassem um
papel fundamental. As organizações ligadas á Igreja Católica, e posteriormente a
outras religiões, fortaleceram-se neste processo. A Igreja Católica foi a única
instituição que atravessou os regimes ditatoriais no Brasil sem sofrer graves
consequências, podendo assim continuar atendendo parte das necessidades sociais
através de suas dioceses e pastorais.
A partir de 1968, com o Ato Institucional nº
5, há uma ruptura total diante da violenta repressão - prisões, torturas e
assassinatos de estudantes, operários e padres e perseguições aos bispos. A
Igreja atua em setores populares, com as comunidades eclesiais de base,
inspiradas na Teologia da Libertação, para vincular o compromisso cristão com a
luta por justiça social. Nos anos 70, os abusos contra a ordem jurídica e os
direitos humanos levam a Igreja a se engajar na luta pela redemocratização, ao
lado das demais instituições da sociedade civil. Em oposição à Teologia da Libertação,
desponta o movimento de Renovação Carismática Católica, de moral conservadora e
ritual semelhante aos das Igrejas Pentecostais.
Existe uma trajetória no século XX, no Brasil
e no mundo, que reconhece a importância crescente da atuação de entidades
privadas, com fins públicos, o Terceiro Setor.
Os principais personagens do Terceiro Setor
são as Fundações, ONGs e Empresas com responsabilidade social. As Fundações são
instituições que financiam o Terceiro Setor, através de doações às entidades
beneficentes. Temos também as fundações mistas que doam para terceiros e também
possuem projetos próprios. Ainda há um número muito pequeno de fundações no
Brasil e algumas delas tem pouca atuação social. Num primeiro momento podemos
dizer que as organizações sem fins lucrativos surgem como um contraponto à
ineficiência do Estado como prestadores de serviços a cidadãos exigentes e
insatisfeitos. As atividades desenvolvidas pelas organizações não
governamentais representam uma possibilidade no mercado frente à ineficiência
do poder público. Por se tratar de organizações sem fins lucrativos, a
qualidade dos serviços oferecidos é legitimada pela sociedade em geral e por
seu potencial cliente. As razões ideológicas são elementos motivadores para a
ação das organizações não governamentais e do voluntariado.
O contato com a realidade social do país e a
experiência adquirida a partir de parcerias realizadas com organizações da
sociedade civil, as empresas passam a constituir suas próprias fundações
empresariais, não deixando de lado a atuação em parcerias. A proximidade com o
setor privado propiciou a profissionalização de algumas organizações sem fins
lucrativos, que procuram eficiência administrativa e profissional qualificado
para atuarem em seus quadros de pessoal.
Enquanto a transformação da realidade social
é a razão que sustenta o movimento social, a realização de iniciativas e a
execução de projetos para a integração social são o que dá sentido à existência
das organizações de voluntariado e das ONGs.
AS
TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO E PAPEL DO ADMINISTRADOR NOS SÉCULOS XIX E XX
A administração como ciência é relativamente recente porque os
estudos mais profundos
e que realmente mudaram o perfil deste conjunto de conhecimentos, datam do final do século XIX e início do XX,
quando trouxeram importância e reconhecimento desta ciência junto às demais,
porque houve a verificação prática de que o desenvolvimento social e econômico
passava pelas organizações, que, conforme fossem administradas trariam
progresso onde estivessem situadas.
A
partir da terceira década do século XIX, o tema da administração do trabalho
ganhou maior atenção dos que escreveram sobre a agricultura escravista
brasileira: os trabalhos agronômicos de fôlego, que lidavam com as diferentes
esferas da administração da propriedade rural escravista. O administrador das
fazendas era o capataz.
Cronologia da evolução das
teorias administrativas:
Embora a industrialização tenha iniciado na década de 80 (séc. XIX) com os adventos das invenções mecânicas, hidráulicas e elétricas (Revolução Industrial) o estudo sistemático só ocorreu no início do séc. XX:
1911 – Princípios da Administração Científica com os estudos de Frederick W. Taylor nos Estados Unidos sobre o sistema técnico com ênfase na especialização da tarefa e controle da produção.
1916 – Administração Industrial e Geral de Henry Fayol na França, com abordagem na departamentalização, competências administrativas e desempenho organizacional, sendo considerado o Pai da Administração Clássica que defendia que a administração deveria ser uma disciplina a ser estudada fora das escolas de engenharia.
1927 – Relações Humanas a partir dos trabalhos de R.F.Hoxié, Robert Owen e Elton de Mayo - experiência de Hawthorne - onde o funcionário passa a ser visto como recurso humano e não como uma peça do sistema técnico.
1940 – Escola burocrática de Max Weber com ênfase na organização formal e burocracia racional.
1943 - Teoria da motivação e escalas de necessidades de Abrham Meslow, considerado o pai da Psicologia Transpessoal.
1945 – Behaviorismo (comportamento) de Herbert Simon, Teoria da decisão que concebe a organização como um sistema de decisões.
1950 – Teoria Geral de Sistemas de Ludwig Von Bertalanfy na Áustria, abordagem sistêmica - organização como sistema aberto, visão holística.
Peter Drucker com sua obra “The Pratice of Management” inicia uma nova era no pensamento administrativo e gerencial que considera a administração como disciplina dada sua importância no estudo da organização. Foi considerado o Pai da administração moderna.
1960 – Teorias X e Y de Douglas
McGregor.
1970 – A partir da Teoria da
Contingência, desenvolvida no final dos anos 70, a empresa e sua administração
são variáveis, dependentes do que ocorre no ambiente externo. À medida que o
meio ambiente vai mudando, a empresa e sua forma de administração precisam
mudar no mesmo ritmo.
1981 – Teoria Z de William Ouchi estabelece o conceito de administração participativa.
As Três
Eras da Administração do Século XX
Era Clássica
1900 –
1950
|
.
Inicio da Industrialização
.
Estabilidade
. Pouca
mudança
.
Previsibilidade
.
Regularidade e certeza
|
.
Administração Científica
.
Teoria Clássica
.
Relações Humanas
.
Teoria da Burocracia
|
Era Neoclássica
1950 –
1990
|
.
Desenvolvimento Industrial
.
Aumento da mudança
. Fim
da previsibilidade
.
Necessidade de inovação
|
.
Teoria Neoclássica
.
Teoria Estruturalista
.
Teoria Comportamental
.
Teoria de Sistemas
.
Teoria da Contingência
|
Era da Informação
Após
1990
|
.
Tecnologia da Informação
.
Globalização
.
Ênfase nos serviços
.
Aceleração da mudança
. Imprevisibilidade
.
Instabilidade e incerteza
|
Ênfase na:
Produtividade
Qualidade
Competitividade
Cliente
Globalização
|
A administração,
como ciência, se desenvolveu ao longo do século XX. Alguns valores essenciais
como a ética, o trabalho em equipe e o planejamento estratégico na gestão
empresarial continuam fortes, além de outros novos, como a responsabilidade
social e ambiental, cada vez com uma maior importância no perfil de qualquer
administrador.
Alguns fatos
recentes demonstram a importância cada vez maior da ética no segmento
administrativo empresarial, principalmente, os sucessivos escândalos de fraudes contábeis ocorridos nos EUA. Os CEOs ou
diretores-executivos, cada vez mais preocupados e obstinados por lucros a
qualquer custo, deixaram a ética de lado, maquiando os balanços contábeis para
inflar o preço das ações de suas empresas. Tudo isso causou uma enorme
enxurrada de investimento nas bolsas de valores, no entanto, quando essas
fraudes contábeis foram descobertas, houve um colapso nas bolsas de todo o
mundo.
Além disso, o dogma
de que os profissionais, não só da área da administração, mas de qualquer
profissão, deveriam ser especialistas e individualistas, caiu por terra. As
teorias mais modernas explicam que o profissional deve ter uma visão global de
sua profissão, ou seja, deve saber de tudo um pouco. Junto a isso, além do
administrador ter uma visão generalizada, ele deve trabalhar em equipe e fazer
uma convergência das ideias até chegar a um consenso. Dessa forma, os
resultados são aperfeiçoados constantemente.
Por outro lado, o
planejamento estratégico empresarial, pouco usado na primeira metade do século XX,
passou a ser de uso comum e constante. Os sucessivos abalos sofridos pela
economia mundial clarearam a mente da maioria dos executivos. Crises,
passageiras ou não, como a do México, da Rússia, do Oriente Médio, do próprio
Brasil com a incerteza eleitoral em 2002, das ações da Internet, das fraudes
contábeis e do ataque terrorista de 11 de setembro, obrigaram os executivos a
traçar planos antecipadamente para poderem sobreviver a esses períodos de
turbulência econômica.
A
mais importante mudança que o futuro reserva para a Administração é que, nos
países desenvolvidos, as aspirações, os valores e, de fato, a sobrevivência,
mesmo da sociedade, virão a despertar, cada vez mais, do desempenho, da
competência e dos valores dos Administradores. A importante tarefa que está
reservada à próxima geração é, portanto, tornar produtivas, para o indivíduo, à
comunidade e à sociedade, as novas instituições organizadas de nosso novo
pluralismo. E, isso, é o que constitui acima de tudo, o novo papel da
Administração, fundado na Ética, na Democracia, na Participação,
no Desenvolvimento Ecologicamente Sustentado, no respeito à Vida,
no Pluralismo e na participação de todos dos resultados e bens da
humanidade.
O
Administrador é ou, deve ser para as organizações, o que representa o Médico
para a saúde de cada um de nós.
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